domingo, 28 de novembro de 2010

O cheiro da empada

Meu pai teve um fusca com cheiro de empada de frango. O carro tinha cor de pastel e era com ele que o "Seu Cataldo" me buscava na escola. Eu estudava no Instituto Iguaçuano de Ensino, obviamente em Nova Iguaçu. Na mesma calçada, havia uma lanchonete com o mesmo cheiro do fusca. Meu pai comprava as empadas lá, embaladas em caixas grandes. No fundo delas, havia círculos de gordura. As empadas eram revendidas embaixo da minha casa, numa loja de festas que acabara de nascer a partir do antigo comércio de móveis. Segundo meus pais, o ramo dos móveis não dava mais dinheiro. A transição de móveis para festas acarretou algumas mudanças. Digo "algumas" porque só lembro - e sei - das que eu sentia. A mensalidade da escola cara vivia atrasada e sendo negociada. Meu pai trocou o Gol vermelho pelo Fusca bege. O Fusca bege não parava na porta da escola, como antes o Gol parava. O Fusca bege parava na rua do lado. Para ajudar nas contas, meus pais vendiam salgados na loja de cara nova. Os principais consumidores eram os vereadores, da Câmara Municipal que ficava logo ao lado. Meus pais pararam de vender salgados quando a Câmara se mudou para o centro de Belford Roxo. Eu parei de estudar no Iguaçuano quando as dívidas das mensalidades não cabiam mais em negociação.
(Josy Antunes)

Um comentário:

  1. História de empada? Quantas... rs... Um dia conto! Bela empada a sua! Parabéns!

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