Eu me lembro do cheiro do isopor queimado. E dos peixinhos e corações que minha mãe fazia com a sobra do isopor. Lembro ainda da ponta da caneta Bic afundando nas bolinhas do isopor, enquanto eu tentava dar rostos aos peixes. Minhas mãos de criança não eram tão delicadas quanto as de minha mãe. Com isopor, glitter, crepom e seu par de mãos feias, minha mãe produziu festas no melhor estilo anos 90. Eram painéis, enfeites, bolos e lembranças da Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Bozo, Barbie e seleção brasileira.
As festas da Joseane e do Roger eram as melhores do bairro, com direito a máquina de algodão doce, teatro de fantoches, árvore de maçã do amor e filmagem profissional. Quem filmava era o Porto, velho amigo da família, que até hoje trabalha informalmente no ramo. Porto filmou a minha primeira festa de aniverário. Naquela época, a câmera monstruosa do Porto era maior do que o meu corpo. Sua lente me registrou a cada ano vestida de uma princesa da Disney diferente.
Quando a festa acabava, Porto subia pra minha casa e filmava os embrulhos dos presente sendo abertos. Lembro da imagem do meu quarto cor de rosa e da menina branquinha, branquela e magricela sobre a cama. Com uma franjinha aparada no meio da testa e olhos tristonhos, ela observava os presentes espalhados na colcha florida. Entre os presentes, uma máquina de costura de brinquedo e um unicórnio amarelo de rabo rosa.
A imagem estava contida numa das fitas VHS dos meus aniversários. A menina branquela era eu, mas a memória não foi morar na minha cabeça pela vivência. Foi morar na minha cabeça através das velhas fitas, que foram cobertaas por gravações de clipes de rock, num ato inconsequente do meu irmão.
(Josy Antunes)
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