Volto a platéia do teatro e vejo Hécuba tomar uma porrada atrá da outra através das notícias do mensageiro. A filha Policena que terá de ser sacrificada no túmulo de Aquiles; a outra filha louca Cassandra que terá de ser sacrificada em honra ao deus Apolo, o netinho recém-nascido, filho de Heitor que será atirado do alto das muralhas de Tróia para não correr o risco de crescer e vingar os seus e a coitada não pode fazer nada. Eu também não pude fazer nada pelos textos infantis que escrevi ainda menino das minhas aventuras no Sítio do Picapau Amarelo onde eu aprontava mil e umas com a Emília, o Pedrinho, a Narizinho e o Visconde de Sabugosa. Eu escrevia tudo num caderno inspirado no programa que mais mexia com a minha cabeça. Mas o caderno se perdeu na poeira do tempo.
Volto novamente à platéia do teatro e vejo Hécuba se lamentar com Zeus de seu infeliz infortúnio e seguir cativa dos gregos. Fecha o pano. Fim do espetáculo.
Vou ao camarim cumprimentar a atriz e qual é o seu assombro quando digo a ela:
- Liga não, Hécubinha. Isso já aconteceu comigo também.
(Marcio Rufino)
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